FICAR EM CASA OU NEGOCIAR A PRÓPRIA VIDA? Por Jerônimo Nunes Peixoto.
O mundo está vivendo uma crise sem precedentes. Já estava imerso numa tsunami econômica e, agora, vem o COVID-19, para pôr lenha na fogueira das dificuldades de saúde pública e econômicas. Está-se vivendo uma guerra, cujo lado oposto é invisível e, portanto, altamente surpreendente. Não se podem fazer trincheiras para barrá-lo ou lançar mão de armas de longo alcance para o aplacar. O Vírus que aí está é exigente e requer atitudes antes tidas como inconcebíveis, sobretudo para os ditames do mercado. Exige conhecimento científico.
Toda crise é sinônimo de ressignificação para alguns e de miserabilidade para outros. Aos empreendedores sempre coube a percepção de mudar de atitudes, rever conceitos e alçar voos grandiosos, antes tidos como quimeras. Enquanto uns choram, outros vendem lenços; enquanto uns sepultam entes queridos, outros vendem planos funerários de enorme relevância no quesito satisfação de pessoal das famílias. Assim é a dinâmica da sociedade mercadológica, de cunho capitalista. Mas isso não é para todos e nem se enquadra em todas as experiências humanas. A hora requer conceitos diversos!
Ante a pandemia do Novo Coronavírus, as orientações da Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde, de Secretários de Saúde, de Médicos e de pesquisadores é, em uníssono, que as pessoas interrompam ao máximo suas idas e vindas, procurando, o quanto possível permanecer em casa, para evitar contaminações em massa como vem se dando na Itália, na Espanha, na Inglaterra e dos Estados Unidos, só para citar alguns. O alerta da OMS (Organização Mundial da Saúde) foi olvidado por muitos chefes de estado. Eles ignoraram as orientações e agora saem em “mea-culpa”, com se simples pedido de perdão fosse capaz de remediar o mal que eles ajudaram se abater sobre a população.
No nosso País a discussão sobre a paralisação forçada adquiriu contornos politiqueiros, além de interesses meramente pessoais. Os que têm seus negócios estão achando um absurdo parar. E é mesmo! Quanto vale a vida de alguém que eu não conheço? Sob a ótica do mercado, nada! Do ponto de vista da solidariedade humana – nem me refiro a religião alguma – vale tudo! Mas, quanto vale a minha vida, a vida do meu filho, do meu irmão, da minha mãe, da minha esposa e do meu pai? Quantos precisarão morrer, para o país acordar? Há três meses, era um problema da China. Hoje, está em Sergipe, aqui, entre nós!
Se os prejuízos causados aos empresários, ambulantes, feirantes, carroceiros, engraxates, pipoqueiros – enfim a todos os atingidos pelo isolamento – fossem responsavelmente assumidos pelo Governo, não se assistiria à triste realidade de falsas postagens, de discursos inflamados de ódios, e eivados de interesse pessoal em detrimento dos interesses coletivos. Num país sério, mesmo sabendo que a crise econômica está aí, o Governo resolve as coisas, com a devida seriedade e eficácia da medida. Um Estadista que se presa não faz pouco caso ou piadinhas com uma situação tão dramática. Um governante – de qualquer ideologia partidária – tem o ingente dever de cuidar do bem comum.
Se o Governo Federal tivesse levado a sério a pandemia e tivesse agido em favor da população, as postagens nas redes sociais não girariam em torno do “abre ou fecha”, porque todos repartiriam por igual os prejuízos, posto que estes deveriam ser suportados pela União, ente arrecadador de impostos e responsável pelos brasileiros. Isso poderia quebrar o país? Poderia! Mas seria uma baixa justa porque estaria se cumprindo a verdadeira razão de ser do Estado. Nesse sentido, os Governadores de Estados e os Prefeitos, em sua maioria, estão de parabéns, pois estão suprindo, o quanto possível, a lacuna deixada pela Presidência da República que se revelado inerte e inoperante. Sem essas atitudes dos Estados e Municípios, estaríamos numa situação muito mais dramática.
A pior desgraça é que, além de pouco se incomodar com os brasileiros, o Presidente faz questão desautorizar os discursos dos técnicos em saúde, inclusive do Ministro da Saúde. Cada um em seu devido lugar. Governar não é entender de todos os assuntos, mas delegar pessoas tecnicamente preparadas para cada área. Assim é que as nações sérias fazem. E o Ministro Mandetta tem-se mostrado competentíssimo, equilibrado e bastante doado à causa abraçada. A visibilidade política que ele está tendo, em decorrência de suas atitudes está incomodando...
Existem previsões técnicas de que, até meados de abril, o nosso País seja altamente infectado. E o meio mais eficaz de amenizar a infecção geral é coibir a proliferação do vírus, permanecendo em casa, sem sair às ruas por motivos banais. Ninguém, em sã consciência, vai comparar os sistemas de saúde da Inglaterra, da Itália, da Espanha e dos Estados Unidos ao do Brasil. Aqui, em condições normais, faltam hospitais e assistência de saúde aos carentes, que são maioria. UTI para pobre é uma vez na vida e olhe, olhe!
Permanecer em casa é uma atitude de interesse coletivo, pois ajudará a retardar a ação do vírus, contribuindo para que as unidades de saúde tenham maior possibilidade de atender aos infectados, modulando os efeitos da pandemia. Se todo mundo for trabalhar, a infestação vai acelerar e as casas de saúde – mesmo bem equipadas – não darão conta de atender a todos. Muitos morrerão sem qualquer necessidade. Isso pode ser evitado!
Ficar em casa é uma atitude de solidariedade e de interesse coletivo. Pensemos nisso. Ao invés de dizer: “trabalhar ou morre de fome” mudemos o discurso para “exigimos do Governo ações em prol da população, ressarcindo os prejuízos que TODOS estão amargando"! Diante de uma tamanha desgraça, o isolamento é o melhor remédio. Não troque seus lucros pela sua vida ou pela vida de quem quer que seja. Vamos salvar o Brasil! Tenhamos fé, solidariedade, prudência e esperança!
Jerônimo Nunes Peixoto é colunista do portal 93notícias